Diz a sabedoria popular que não há nada como passar por elas. E a verdade é que, quando nos toca a nós, temos uma diferente compreensão das situações, olhamos e pensamos sobre questões que muito provavelmente não nos ocorreriam apenas pela observação dos outros.

Entre o Natal e a passagem de ano, nos meus regulares testes de antigénio feitos em casa e num contexto de ligeira sintomatologia de uma constipação, tive um resultado positivo à covid-19.Todos nós fomos educados nos últimos tempos a ligar de imediato para a linha de saúde 24 e a fazer exactamente o que nos indicam.

Assim, como milhares de portugueses, liguei de imediato para a linha, consegui ser atendida perto das 08h00, tendo iniciado as minhas infrutíferas tentativas de contacto por volta das 05h30.Da linha, depois de uma breve conversa, encaminharam-me para uma consulta com o médico no centro de saúde de referência. Quanto ao meu namorado, que vive comigo, disseram que poderia fazer a sua vida normal sem necessidade de fazer teste. Valeu-nos a nós, e àqueles com que nos relacionamos, o nosso bom senso.

E foi neste exacto momento que comecei a sentir que aquilo que durante estes vários meses tinha ouvido e lido não batia certo com a informação que agora me estavam a prestar.

Encaminhei-me ao centro de saúde, sem consulta marcada, continuando o calvário para garantir que me era prescrito um PCR e “assim entrar no sistema”.

Não faria mais sentido a linha agendar as consultas do que enviar pessoas doentes, com elevado risco de contágio, para filas intermináveis ao frio (por sorte não estava a chover)?Fiz o teste numa quinta-feira e recebi o resultado no domingo. Descansei finalmente: estava no tal “sistema”!

Fui apenas contactada pela saúde pública sete dias depois de ter testado positivo em casa e dois dias depois de ter um resultado positivo no PCR. Espantem-se, ou não: afinal, ao contrário da informação que me foi dada na linha, o meu namorado tinha de estar em isolamento e ir fazer um teste. Acabou por testar positivo. Valha-nos o bom senso e alguma literacia na saúde!

Tudo isto para vos falar na importância da gestão de expectativas.

Se andam meses a informar e a educar a população para ter determinado comportamento, se quando a população o tem, não consegue ser atendida pela linha, são transmitidas informações contraditórias e se fica a aguardar um contacto que nunca mais acontece (ainda estou à espera do contacto do centro de saúde, valeu-me o meu querido médico Dr. Maia), tudo isto gera angústia, ansiedade, desorientação e claro risco para a saúde mental de quem passa por toda esta experiência e risco de contágio para a comunidade.

Ana Luísa Conduto

Psicóloga e jurista