Primeiramente, antes de abordar a importância do desenvolvimento da linguagem, é importante esclarecer o que realmente é a linguagem e em que é que consiste.

A Linguagem é um dos produtos mais misteriosos da mente humana. Para além de ser o principal meio de comunicação e socialização do Homem, constitui também um veículo para o pensamento. Sendo o Homem um ser essencialmente social, as suas competências comunicativas são consideradas a base da interação social. (Coutinho, 2012). A linguagem, no fundo, é a troca de mensagens entre quem a transmite e quem a recebe.

A maior parte das crianças desenvolve a linguagem de uma forma natural durante a infância, estando predispostas a adquirir a língua materna. A aquisição da linguagem é um processo que não necessita de um mecanismo formal de ensino e, por isso, ocorre via exposição (Sim-Sim, 2008). As crianças começam a produzir, entre os 12 e os 18 meses, as primeiras palavras e no início da idade escolar – 5 a 6 anos – já apresentam um vocabulário extenso, produzem diversos tipos de frases e são capazes de participar numa conversa.

A linguagem, propriamente dita, é dividida em várias componentes: semântica, fonologia, morfossintaxe e pragmática. A semântica aborda o estudo entre o conteúdo e o significado. (Silva, 2003). Esta envolve o conhecimento do significado das palavras que facilita, posteriormente, a compreensão do conteúdo de uma mensagem. Assim, é importante considerar o tamanho do vocabulário, também conhecido por léxico. Quanto maior for o léxico da criança, maior é a sua capacidade semântica. A fonologia aborda os sons da língua (Prates & Martins, 2011), estabelecendo os princípios que regulam as estruturas sonoras da língua. A fonologia envolve a reflexão, análise e manipulação dos componentes da linguagem como palavras, sílabas, sons. A morfossintaxe aborda a organização das palavras nas frases e a formação e classificação das palavras (Prates & Martins, 2011). A morfossintaxe permite a construção de frases gramaticalmente corretas e facilita a interpretação de enunciados orais e escritos. Por último, a pragmática envolve a componente social da linguagem, ou seja, o uso da linguagem em contexto. Se esta componente da linguagem estiver adequada, os indivíduos apresentarão facilidade em comunicar em diferentes contextos sociais.

Agora que o conceito de linguagem está esclarecido, vamos então clarificar porque é que é importante estimular a linguagem para um desenvolvimento adequado das competências de leitura e escrita.

É durante os anos pré-escolares e início da escolarização que as crianças aprendem a ler e a escrever e desenvolvem ferramentas que as permitem prestar atenção à fala, analisando-a nos seus diversos segmentos, sejam sons, sílabas, palavras ou frases. (Maluf & Barrera, 1999).

Vários estudos sobre o tema identificam a relação entre a linguagem e a aquisição da linguagem escrita. Estudos esses, demonstraram também que dificuldades na linguagem oral resultam em dificuldades posteriores na aquisição da leitura e da escrita. Estas alterações são mais evidentes quando envolvem a consciência fonológica. Em 2001 Cardoso-Martins e Pennington realizaram um estudo para compreender a contribuição das habilidades da consciência fonémica e nomeação rápida para o desempenho na leitura e escrita. Os resultados deste estudo mostram que estas competências contribuíram independentemente para as habilidades de leitura e escrita. Neste estudo, os autores perceberam que a consciência fonémica esta maioritariamente ligada à aquisição de leitura e a nomeação rápida mais ligada à leitura fluente.

A ligação entre as competências de linguagem e a aquisição da leitura e escrita é clara e importantíssima. Estimular as crianças para um desenvolvimento linguístico adequado é um preditor de sucesso para a futura aquisição da leitura e escrita. Resta então a questão: Como posso estimular a linguagem do meu filho(a)?

Estimular a linguagem, se a criança apresentar um desenvolvimento típico, não é tão difícil como pode parecer. Existem inúmeras tarefas que não envolvem comprar jogos ou material e que pode incluir nas suas tarefas da vida diária, como quando está a conduzir, a fazer o jantar, ou até mesmo no supermercado. Em baixo seguem alguns exemplos de atividades que podem estimular a linguagem com pouco ou nenhum material, divididas por cada área.

Consciência fonológica:

1. Manipulação Silábica. Instrução: Pegue em jornais que já não precise e recorte palavras. De seguida, com a tesoura, divida as palavras em sílabas e com essas mesmas sílabas tente formar palavras novas. Por exemplo, com as sílabas ma – la, pode formar as palavras “mala” e “lama”.

2. Evocação de rimas. Instrução: Escolha uma palavra inicial e tente encontrar o máximo de palavras que rimem. Este jogo deve ser realizado à vez. A pessoa que não souber mais palavras, perde.

3. Identificação e evocação fonémica. Instrução: Escolha um objeto. Identifique o som inicial desse objeto. Com o som inicial, encontre o maior número de palavras começadas por esse som. Jogar à vez. A pessoa que não souber mais palavras, perde

Leitura e escrita:

1. “Scrabble” Caseiro. Instrução: Desenhe várias letras em quadrados de papel, uma letra em cada papel. Reforce a quantidade de vogais e repita algumas consoantes. Com os quadrados de papel, formem palavras diferentes. Quanto maiores as palavras, mais pontos ganha.

2. Vamos às compras! Instrução: Quando tiver de fazer a lista das compras para casa peça ao seu filho(a) que a faça. Vejam juntos o que falta em casa e escrevam numa folha. Tente levar a criança quando for às compras e peça-lhe que leia a lista e o ajude a encontrar os produtos

3. Vamos às compras parte II. Instrução: Dê ao seu filho(a) um folheto de promoções do seu supermercado de eleição. Diga-lhe que produtos precisam de comprar e peça-lhe para, no folheto, identificar se algum se encontra em promoção. Peça-lhe para escrever na lista os produtos que necessitam que se encontram em promoção

4. Evocação de palavras. Instrução: Escolha uma palavra aleatória. Desconstrua a palavra em letras. Com cada letra da palavra, pense em novas palavras começadas por essa letra

Semântica:

1. Evocação de palavras por categoria. Instrução: Escolher uma categoria específica (legumes verdes, frutas vermelhas, roupas, etc.). À vez, dizer nomes pertencentes à categoria em questão. Quem não souber mais palavras, perde.

2. Jogo do STOP. Instrução: Numa folha colocada na horizontal, escreva diversas categorias (nomes, animais, cores, frutas, marcas, etc.). Recite, sem som, o alfabeto. Quem está a jogar consigo deve dizer STOP quando entender. Identificar a letra onde parou. Preencher as categorias com palavras começadas pela letra selecionada

Variação: Pode usar tempo caso esteja a jogar com uma criança mais nova, para lhe dar hipótese de pensar.

Este tipo de estimulação envolve também leitura e escrita

3. O rei manda! Instrução: Escolha alguém para começar. Começar com ordens simples. “O rei manda por a mão na cabeça”. Complexifique as ordens. “O rei manda por a mão na cabeça e dar uma volta”. Caso não diga as palavras “o rei manda” e o jogador executar a ordem na mesma, o jogador perde e os papeis devem ser invertidos.

Morfossintaxe:

1. Construção frásica. Instrução: Escolha quatro palavras. Construa frases com sentido que incluem as quatro palavras escolhidas. A frase mais engraçada ganha.

2. Manipulação gramatical. Instrução: De objetos que estejam perto, escolha alguns. Diga os diminutivos, aumentativos, contrário, derivações dessas palavras. Uma derivação de palavra é “um homem que pinta é um…”

3. Aumento frásico. Instrução: Comece com uma palavra de início de frase. Quem joga depois deve acrescentar uma palavra de maneira que a frase faça sentido. Repetir o processo até já não ser possível aumentar a frase.

Pragmática:

1. O que é que se diz quando? Instrução: Crie um cenário que não existe. Por exemplo “Vamos fingir que estamos na praia”. Pergunte à criança “o que é que se diz, quando…?” Por exemplo “O que é que se diz quando atiras areia sem querer para alguém?”. Caso a criança não consiga responder guie-a e ajude-a a perceber qual é a resposta mais adequada dependendo da situação. Repita com outros cenários

2. Instrução: Reforce as regras de comunicação dependendo do contexto. O que se deve dizer à lojista depois de uma ida ao supermercado? O que se diz quando se encontra alguém conhecido na rua? etc.

 

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